Foto: Thaís Herculano

Eles só querem transar comigo. Não querem andar no shopping de mãos dadas.

Você consegue imaginar o que é sonhar a vida inteira em ser amada pelo que é, e, a cada novo encontro, perceber que a sociedade ensinou as pessoas a verem você como alguém que não merece amor?

É o que sente Gabyanna, uma mulher negra e gorda, quase todas as vezes em que é preterida, ora pela cor da pele, ora pelo formato do corpo. Ou pelos dois. Será que ninguém vê a mulher é inteligente, bem humorada, sincera, livre e independente que ela é? Será que todas essas coisas são menos importantes?

Gabyanna é uma mulher bem sucedida em sua carreira, que viaja o mundo e vive as mais diversas aventuras amorosas. Ela não tem medo de se jogar, sair, conhecer gente, namorar. Uma mulher que supervaloriza as relações humanas e o sexo, que gosta de estar cercada por gente, curtindo os bailes e os bares. 

Foto: Thaís Herculano
Sigo em busca de alguém que goste de mim de verdade e me aceite em todas as minhas nuances. Alguém que veja além da minha cor e das medidas do meu corpo. Alguém que não olhe torto para o meu cabelo, para o tamanho da minha barriga, do meu quadril.


SINOPSE: Livro retrata as aventuras de uma jovem mulher que sonha burlar as estatísticas da solidão que tem cor.
Quem é que não sonha em encontrar alguém para viver uma história repleta de companheirismo e respeito?
De pensar que é grande o número de mulheres que anda “reclamando” das dificuldades em se deparar com um homem que queira compromisso sério. Assumir e não sumir!
Acontece que, quando a mulher é negra e gorda as dificuldades são ainda maiores. Além de já sofrerem o preconceito herdado historicamente, a elas foi negado o direito de amar.
E foi para refletir a respeito e também empoderar outras garotas que a contadora e autora do livro Gabyanna Negra e Gorda, Gabriela Rocha, decidiu escrever a respeito.
Com bom humor e reflexão, Gabriela narra desde as aventuras amorosas de Gabyanna, os conflitos com os homens, sonhos e medos da personagem, assim como aborda temas essenciais do universo da mulher negra.

Título: Gabyanna: negra e gorda
Autora: Gabriela Rocha
Editora: Schoba
Número de páginas: 182
Gênero: Ficção contemporânea e humor
ASIN: B07MXPKT7L


O livro começa com a mudança de Gabyanna para Oslo, na Noruega. Ela é a contadora de uma grande empresa e fluente em inglês desde jovem. E é aí, a partir dessa viagem, que Gabyanna começa a refletir sobre sua história e suas aventuras (des)amorosas.

Narrado em primeira pessoa, é como se sentar de frente para Gabyanna e ouvir sua eterna busca por amor e as frustrações que vêm com ela. É um livro que deixa bem claro que a solidão tem cor.

Foto: Thaís Herculano
Se ele podia namorar essa moça, por que comigo não? A escolhida era magra, loira, tinha os olhos azuis (...). Foi a partir disso que comecei a me ligar que algo era diferente. Eu não era o perfil.

Em alguns momentos, não me agradou a forma como a personagem falava sobre algumas pessoas, os termos usados soavam pejorativos. O que mais me incomodou foi o uso do termo “sapatão” que, mesmo com o tom escrachado da narradora, me deixou desconfortável. Outro momento é quando ela conta para nós a história de um dos seus relacionamentos fracassados e, ao se referir ao rapaz com o qual havia terminado, ela usa o termo “esquizofrênico” como substantivo, de maneira a diminuí-lo. Fiquei me perguntando por que não usar o nome do rapaz ao invés de reduzi-lo a uma condição psicológica que não o define.

O livro também tem alguns problemas com os tempos verbais, fiquei #perdida. Outro ponto, talvez o principal, seja o fato de que não consegui me apegar a absolutamente ninguém na história. Sequer me lembro o nome de uma das muitas pessoas que passam pela vida da Gabyanna durante o livro. E são MUITAS pessoas. Tiveram momentos onde ela introduzia um personagem em um parágrafo e dava fim a ele no próximo. Entendo que é a proposta do livro, mas é uma história muito contada e, pelo menos para mim, pouco sentida.

No entanto, apesar desses problemas, a autora Gabriela Rocha, através de Gabyanna, apresenta para nós uma história de vida real, muito verdadeira e IMPORTANTE, e a vivência dela como mulher negra e gorda é bastante enriquecedora e eu recomendo que você a conheça. Além disso, é um livro leve (apesar de triste se você tiver o mínimo de empatia), de fácil leitura e que está disponível gratuitamente no Kindle Unlimited.

Foto: Thaís Herculano

Em Amizades, cacatuas e outras coisas fora de controle, acompanhamos a história de duas ex-amigas, cada uma com seus problemas: Helena sofrendo com ansiedade e a dúvida entre tomar ou não aqueles remédios para o seu probleminha, e Antônia, com sua boca de caçapa, falando tudo o que pensa, sem filtro algum. Cada uma tendo que lidar com os próprios processos de autodescoberta.

O livro é contado em primeira pessoa, pelos pontos de vista das duas protagonistas. A autora consegue dar o tom certo em cada capítulo. É incrível ver o humor, ácido e dramático, de Antônia nos capítulos que ela narra e, logo em seguida, mergulhar na melancolia e na ansiedade de Helena.

Aliás, a ansiedade é muito bem narrada no livro. A maneira como a autora aborda a vergonha que a pessoa ansiosa (assim como a pessoa depressiva) sente; a vergonha de ir ao psiquiatra, o medo de que sua doença seja descoberta pelos amigos, o medo de que ninguém compreenda ou que as pessoas tratem como algo fácil de resolver, até mesmo a vergonha de dizer em voz alta que o probleminha é, na verdade, ansiedade, com todas as letras.

Todas as inseguranças, dúvidas e questionamentos são trabalhados de forma muito verossímil. É impossível não ver as duas personagens principais como humanas, cheias de falhas, defeitos e qualidades, e mais impossível ainda não perceber como a amizade delas é forte e bonita. Parecia que eu estava lendo um diário. Em alguns momentos, confesso, parecia que eu estava lendo o meu diário, mesmo não tendo passado por quase nenhum dos momentos que as personagens passam.

Foto: Thaís Herculano


Às vezes, ser um pouco egoísta é exatamente o que nos faz preservar nossa sanidade.

SINOPSE: Antônia e Helena só queriam calma e tranquilidade durante as férias. Mas era claro que não seria fácil assim. Um trabalho de literatura de última hora definitivamente não fazia parte dos planos de ninguém, ainda mais sendo em dupla! E o pior: teriam que fazer juntas. Logo elas, ex melhores amigas de infância que não se falavam há meses. No meio de muita confusão e mágoas, as duas garotas terão que se autodescobrir em uma jornada complicada, com amigos levemente intrometidos, uma vidente mal-educada e a razão do fim da amizade, que pode ou não ter origem em seus próprios problemas e traumas. Isso, é claro, se conseguirem primeiro sobreviver àquela maldita cacatua.

Título: Amizades, cacatuas e outras coisas fora de controle
Autor: Mareska Cruz
Editora: Agência Página 7
Número de páginas: 142
Gênero: Humor
ASIN: B07N4B25M3


Foto: Thaís Herculano

As pessoas tendem a achar que gente gorda tem que ser sempre humilde e pedir desculpas por tudo. Desculpas pelo que eu comia, desculpas pelo que eu fazia, desculpas pelo simples fato de ocupar espaço no mundo. Pois eu ocupava espaço, muito espaço, e não estava disposta a ceder nem um centímetro sequer dele.

O ponto alto do livro é a diversidade. Temos personagens negras, gordas, LGBTs, aces, embustes, garotos brancos legais, cacatuas… Além disso, é lindo ver tanta amizade e companheirismo feminino. É bonito demais ver mulheres se ajudando, conversando, se entendendo, sem disputas idiotas e forçadas.

Por ser um livro pequeno, com 142 páginas, dá para ler em um dia (é ótimo para maratonas). Mas o tamanho talvez tenha sido o maior problema para mim. A narrativa é muito rápida, as coisas vão acontecendo sem parar, sem me dar um tempinho de processar os tiros na cara que eu estava levando (e foram muitos). E, outra, queria que o livro fosse maior para eu chorar e rir muito mais com Antônia e Helena.

Agora uma observação completamente pessoal: caramba! Como esse livro fala com a gente. Qualquer pessoa que tenha algum amigo ou que tenha perdido alguma grande amizade, com certeza, vai se ver nesse livro. E é justamente por isso que eu recomendo tanto essa leitura: porque é real, é humano e, mesmo assim, capaz de arrancar boas risadas.


Foto: Thaís Herculano

“Mas estou cansado de sair do armário. Tudo o que eu faço é sair do armário”.

SINOPSE: Simon Spier tem dezesseis anos e é gay, mas não conversa sobre isso com ninguém. Ele não vê problemas em sua orientação sexual, mas rejeita a ideia de ter que ficar dando explicação para as pessoas — afinal, por que só os gays têm que se apresentar ao mundo? Enquanto troca e-mails com um garoto misterioso que se identifica como Blue, Simon vai ter que enfrentar, além de suas dúvidas e inseguranças, uma chantagem inesperada.

Título: Com amor, Simon (Simon vs. A agenda homo sapiens)
Autora: Becky Albertalli
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 272
Gênero: Ficção juvenil, LGBT
ISBN: 978-85-510-0305-3. 


Foto: Thaís Herculano

“Estou de saco cheio de gente hétero que não consegue resolver as próprias merdas”.

RESENHA

Narrado em primeira pessoa, "Com amor, Simon", nos leva a acompanhar a vida e as aflições de Simon, um garoto gay de dezesseis anos que nunca “saiu do armário”. O ponto chave do livro é exatamente esse, aliás: o questionamento sobre a necessidade do ser humano em viver saindo dos armários da vida, e o fato de pessoas héteros não precisarem fazer isso, não em relação à sexualidade.

A história começa quando Simon Spier é chantageado por Martin, um colega de escola, que tirou alguns prints de e-mails trocados entre Simon e um garoto, identificado como Blue. É quando os problemas têm início. O maior medo do jovem Spier, ao contrário do que possa parecer, não é “assumir” que é gay, mas sim perder o contato com Blue. 

É interessante a maneira como a autora flerta com o clichê adolescente a todo o momento no livro: dois jovens se correspondendo anonimamente por e-mails, descobertos por alguém que passa a chantageá-los. É provável que você já tenha visto essa premissa em muitos outros livros e filmes de ficção para jovens adultos. O grande ponto aqui é se tratar de um clichê adolescente, sim, mesmo que Albertalli tenha criado personagens muito mais verossímeis que os de histórias com as quais estamos acostumados, mas com um protagonista LGBT. É impossível não imaginar um garoto gay lendo o livro, e não se vendo naquele romance jovem. Finalmente, ele tem um clichê no qual pode se ver.

E é um bom livro do gênero. É fofo e fácil de compreender, mesmo que algumas referências tenham sido um pouco difíceis para mim (alerta de velha que não entende mais os jovens). É uma obra com bastante representatividade: tem personagens LGBT, negros e gordos. Sim, em 2018 temos que ressaltar quando o livro aborda esses temas. Há críticas sociais muito bem trabalhadas, mesmo que de forma leve e simples. Aliás, a crítica sobre a normalidade hétero e branca é o grande ouro de “Com amor, Simon” (confesso que gosto mais do nome “Simon vs. A agenda homo sapiens”, mas ok, a gente entende).

Com amor, Simon, é um livro juvenil, voltado para um público jovem, com uma temática extremamente necessária. É importante ver um livro como este. 


Foto: Thaís Herculano



“Sei que temos sorte de estarmos fazendo isso agora, e não vinte anos atrás, mas ainda é um ato de fé”.

O QUE EU ACHEI (pode ter spoiler)

Olha a #polêmica.

Não, mentira. Sem polêmicas. Só algo que eu fiquei me questionando durante todo o livro. É muito bom ver uma obra LGBT, onde o tema central é o fato do personagem ser LGBT, mas que seja leve.

Em alguns momentos, bem no começo de livro, me irritei bastante com o “white people problems” do protagonista. Poxa vida, Simon! O garoto tem uma família super legal, amigos incríveis, uma escola que, como instituição, o protege e apoia. Ele se apaixona, como qualquer jovem, de forma totalmente natural (ponto para Albertalli), porque é natural. Isso é bom! É bom ver um livro onde o personagem LGBT é tão normal e aceito.

Mas, ao mesmo tempo, me bateu uma dorzinha no coração de saber que a realidade do Simon não é a de todos os jovens gays (vou colocar apenas os gays na rodinha, porque para as demais siglas a banda toca um som ainda mais desafinado). Eu queria que fosse.

No país onde mais se mata LGBTs no mundo, ler uma obra como “Com amor, Simon” me causou sentimentos contraditórios: na mesma hora que fico feliz em ver um personagem LGBT sendo retratado com leveza, sem grandes violências e tragédias na vida, fico triste ao lembrar que ele é um privilegiado por ter justamente isso: uma vida normal.