RESENHA: Com amor, Simon

setembro 01, 2018 Maria Freitas 0 Comments


Foto: Thaís Herculano

“Mas estou cansado de sair do armário. Tudo o que eu faço é sair do armário”.

SINOPSE: Simon Spier tem dezesseis anos e é gay, mas não conversa sobre isso com ninguém. Ele não vê problemas em sua orientação sexual, mas rejeita a ideia de ter que ficar dando explicação para as pessoas — afinal, por que só os gays têm que se apresentar ao mundo? Enquanto troca e-mails com um garoto misterioso que se identifica como Blue, Simon vai ter que enfrentar, além de suas dúvidas e inseguranças, uma chantagem inesperada.

Título: Com amor, Simon (Simon vs. A agenda homo sapiens)
Autora: Becky Albertalli
Editora: Intrínseca
Número de páginas: 272
Gênero: Ficção juvenil, LGBT
ISBN: 978-85-510-0305-3. 


Foto: Thaís Herculano

“Estou de saco cheio de gente hétero que não consegue resolver as próprias merdas”.

RESENHA

Narrado em primeira pessoa, "Com amor, Simon", nos leva a acompanhar a vida e as aflições de Simon, um garoto gay de dezesseis anos que nunca “saiu do armário”. O ponto chave do livro é exatamente esse, aliás: o questionamento sobre a necessidade do ser humano em viver saindo dos armários da vida, e o fato de pessoas héteros não precisarem fazer isso, não em relação à sexualidade.

A história começa quando Simon Spier é chantageado por Martin, um colega de escola, que tirou alguns prints de e-mails trocados entre Simon e um garoto, identificado como Blue. É quando os problemas têm início. O maior medo do jovem Spier, ao contrário do que possa parecer, não é “assumir” que é gay, mas sim perder o contato com Blue. 

É interessante a maneira como a autora flerta com o clichê adolescente a todo o momento no livro: dois jovens se correspondendo anonimamente por e-mails, descobertos por alguém que passa a chantageá-los. É provável que você já tenha visto essa premissa em muitos outros livros e filmes de ficção para jovens adultos. O grande ponto aqui é se tratar de um clichê adolescente, sim, mesmo que Albertalli tenha criado personagens muito mais verossímeis que os de histórias com as quais estamos acostumados, mas com um protagonista LGBT. É impossível não imaginar um garoto gay lendo o livro, e não se vendo naquele romance jovem. Finalmente, ele tem um clichê no qual pode se ver.

E é um bom livro do gênero. É fofo e fácil de compreender, mesmo que algumas referências tenham sido um pouco difíceis para mim (alerta de velha que não entende mais os jovens). É uma obra com bastante representatividade: tem personagens LGBT, negros e gordos. Sim, em 2018 temos que ressaltar quando o livro aborda esses temas. Há críticas sociais muito bem trabalhadas, mesmo que de forma leve e simples. Aliás, a crítica sobre a normalidade hétero e branca é o grande ouro de “Com amor, Simon” (confesso que gosto mais do nome “Simon vs. A agenda homo sapiens”, mas ok, a gente entende).

Com amor, Simon, é um livro juvenil, voltado para um público jovem, com uma temática extremamente necessária. É importante ver um livro como este. 


Foto: Thaís Herculano



“Sei que temos sorte de estarmos fazendo isso agora, e não vinte anos atrás, mas ainda é um ato de fé”.

O QUE EU ACHEI (pode ter spoiler)

Olha a #polêmica.

Não, mentira. Sem polêmicas. Só algo que eu fiquei me questionando durante todo o livro. É muito bom ver uma obra LGBT, onde o tema central é o fato do personagem ser LGBT, mas que seja leve.

Em alguns momentos, bem no começo de livro, me irritei bastante com o “white people problems” do protagonista. Poxa vida, Simon! O garoto tem uma família super legal, amigos incríveis, uma escola que, como instituição, o protege e apoia. Ele se apaixona, como qualquer jovem, de forma totalmente natural (ponto para Albertalli), porque é natural. Isso é bom! É bom ver um livro onde o personagem LGBT é tão normal e aceito.

Mas, ao mesmo tempo, me bateu uma dorzinha no coração de saber que a realidade do Simon não é a de todos os jovens gays (vou colocar apenas os gays na rodinha, porque para as demais siglas a banda toca um som ainda mais desafinado). Eu queria que fosse.

No país onde mais se mata LGBTs no mundo, ler uma obra como “Com amor, Simon” me causou sentimentos contraditórios: na mesma hora que fico feliz em ver um personagem LGBT sendo retratado com leveza, sem grandes violências e tragédias na vida, fico triste ao lembrar que ele é um privilegiado por ter justamente isso: uma vida normal.

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